12 fevereiro 2010

entrevista Peter Cook: "Portugal merece mais do que uma arquitectura cool"

uma entrevista a Peter Cook, em Portugal, que saiu no Público outro dia. um extracto que eu achei particularmente curioso...

O que estou a dizer é que me interessa muito o vocabulário da forma, do método, dos materiais, da organização, da experiência da vida na arquitectura. E a grande contribuição do grupo Archigram foi ampliar e diversificar esse vocabulário. Muita arquitectura inglesa da altura [da criação do grupo] restringia-se a certos parâmetros modernistas ou históricos. O que o projecto Archigram disse foi: "Esperem lá!, há muitas coisas a acontecer no mundo; produzem-se carros, fazem-se paredes de vidro, as pessoas divertem-se nas praias!" Depois da dissolução do grupo Archigram [em 1974] continuei por esse caminho. Olho para quiosques de rua, para materiais curiosos, vejo o que as pessoas fazem nos autocarros, interessam-me os patins, os skates... Fico fascinado pelo que se passa à minha volta, fascinado por pessoas. Observo, extrapolo e traduzo o que vejo nos maneirismos da arquitectura. Normalmente descrevo-me como um pluralista extremo.

[...]

Não estive muitas vezes em Portugal. Esta é apenas a minha terceira visita. Mas já me fizeram saber que os arquitectos portugueses mais jovens seguem a arquitectura suíça racionalista. Fascina-me ouvir isso. Penso: "Que pena!" Porque ao visitar o Porto, por exemplo, não fico fascinado pela arquitectura do Eduardo Souto de Moura, que é o que é suposto apreciarmos. Fico mais fascinado pelo facto de ser uma cidade tão bizarra, tão cheia de inconsistências estranhas.

Que tipo de inconsistências?

A cidade parece uma colagem. Vêem-se uns edifícios que parecem Art Déco belga, outros com azulejos brancos e azuis, outros que são simplesmente tolos. Vê-se uma rua que, de repente, simplesmente acaba, ali, aos nossos pés. Vêem-se duas pontes, uma em cima da outra, como se alguém não conseguisse decidir a que altura construir e tivesse escolhido fazer duas... Passei pouco tempo no Porto, apenas dois dias, há alguns anos, mas adorei. Uma cidade riquíssima, completamente apatetada. E suspeito que o edifício do Rem Koolhaas encaixe bem nela, suspeito que funcione como uma extensão desse ambiente, que não seja apenas uma coisa educadinha. De qualquer forma, sempre achei que as segundas cidades de um país são fascinantes. Não têm que olhar para o establishment, porque não é nelas que se centraliza o poder. As pessoas nas capitais, normalmente, são pomposas. As segundas cidades esforçam-se mais, são mais empreendedoras, antes de tudo porque ninguém está a olhar. Têm normalmente a arquitectura mais criativa... Graz mais do que Viena, Antuérpia mais do que Bruxelas, Glasgow mais do que Edimburgo... A arquitectura mais travessa, a atitude mais descomplexada perante a criatividade está nas segundas cidades. As primeiras cidades, paradoxalmente, tornam-se mais provincianas.


para a entrevista completa.



4 comentários:

mimo disse...

Um viva para o Sr.Peter Cook!!!Melhor não conseguiria dizer, o nosso Porto, motivo de orgulho nacional!!!

Tiago Lambuca disse...

muito bom post, parabens nisa! continua ;)

Tiago Lambuca disse...

muito bom post, parabens nisa! continua ;)

Diogo Filipe Filipe disse...

a entrevista é genial!! obrigado!