03 junho 2011

Souto de Moura e Barack Obama - os discursos

Bem malta, só para vos deixar aqui duas peças assinaláveis. O texto não é muito longo, somente o suficiente para nos deixar a pensar.

Discurso de Obama:

Discurso do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na entrega do Prémio Pritzker de Arquitectura a Souto de Moura (em inglês)
REMARKS BY THE PRESIDENT
AT THE PRITZKER ARCHITECTURE PRIZE EVENT
Andrew Mellon Auditorium
Washington, D.C.


THE PRESIDENT: Thank you. Thank you very much. Thank you. Please - please, everybody, have a seat.
Well, thank you, Tom, for that introduction. Thank you to the entire Pritzker family for your friendship and incredible generosity towards so many causes. I want to welcome as well the diplomatic corps that is here, as well as Secretary Arne Duncan.
On behalf of Michelle and myself, I want to begin by congratulating tonight’s winner, Eduardo Souto de Moura. And I also want to recognize the members of the prize jury, who I think have a very difficult task in choosing from so many outstanding architects all around the world.
Now, as Tom mentioned, my interest in architecture goes way back. There was a time when I thought I could be an architect, where I expected to be more creative than I turned out, so I had to go into politics instead. (Laughter.)
And as the Pritzkers and so many others here can attest, if you love architecture there are few better places to live than in my hometown of Chicago. (Applause.) It is the birthplace of the skyscraper -- a city filled with buildings and public spaces designed by architects like Louis Sullivan, Frank Lloyd Wright and Frank Gehry, who is here tonight.
In fact, the headquarters of our last campaign was in a building based on a design by Mies van der Rohe. And for two years, we crammed it full of hundreds of people working around the clock and surviving on nothing but pizza. (Laughter.) I’m not sure if that’s what Mies had in mind, but it worked out pretty well for us.
And that’s what architecture is all about. It’s about creating buildings and spaces that inspire us, that help us do our jobs, that bring us together, and that become, at their best, works of art that we can move through and live in. And in the end, that’s why architecture can be considered the most democratic of art forms.
That's perhaps why Thomas Jefferson, who helped enshrine the founding principles of our nation, had such a passion for architecture and design. He spent more than 50 years perfecting his home at Monticello. And he spent countless hours sketching and revising his architectural drawings for the University of Virginia –- a place where he hoped generations would study and become, as he described it, “the future bulwark of the human mind in this hemisphere.”
Like Jefferson, tonight’s honoree has spent his career not only pushing the boundaries of his art, but doing so in a way that serves the public good. Eduardo Souto de Moura has designed homes, shopping centers, art galleries, schools and subway stations –- all in a style that seems as effortless as it is beautiful. He’s an expert at the use of different materials and colors, and his simple shapes and clean lines always fit seamlessly into their surroundings.
Perhaps Eduardo’s most famous work is the stadium he designed in Braga, Portugal. Never one to settle for the easy answer, Eduardo wanted to build this particular stadium on the side of a mountain. So he blasted out nearly a million and a half cubic yards of granite from the mountainside, then crushed it to make the concrete necessary to build the stadium.
He also took great care to position the stadium in such a way that anyone who couldn’t afford a ticket could watch the match from the surrounding hillsides. Kind of like Portugal’s version of Wrigley Field. (Laughter.)
And that combination of form and function, of artistry and accessibility, is why today we honor Eduardo with what is known as the “Nobel Prize of architecture.” As Frank Gehry, a former winner of this prize, said, “Architecture should speak of its time and place, but yearn for timelessness.” I want to thank all the men and women who create these timeless works of art -- not only to bring us joy, but to help make this world a better place.
And, Tom, thank you again for your extraordinary patronage of architecture. It makes an enormous difference. Thank you very much.

Discurso de Souto de Moura
Discurso Prémio Pritzker


Exmo. Sr. Presidente dos EUA, Presidente do Júri, elementos do Júri, meus Amigos, minhas Senhoras e meus Senhores,

Só quando recebi o convite dizendo “Eduardo Souto de Moura of Portugal” é que acreditei que tinha ganho o Pritzker 2011. Não posso esconder que fiquei feliz, por mim, pela minha família, colaboradores, amigos e clientes. Em nome de todos, os meus sinceros agradecimentos.

Aprendi a desenhar na Escola Italiana do Porto, cidade onde nasci, e no liceu decidi ser arquitecto. Não é que tivesse alguma paixão especial pela disciplina, mas na crise agnóstica dos 15 anos, duvidei se Deus devia ter descansado ao 7º dia. É que, pensando bem, ficou por fazer uma geografia como a de Delfos, a Acrópole para receber o Parténon ou secar um pântano no Illinois, onde a Farnsworth pudesse ficar.

Em 1975 depois da Revolução dos Cravos, comecei a trabalhar com o Arqº Siza Vieira. Não só pela arquitectura, mas sobretudo pela pessoa em si, foi uma experiência excepcional que ainda hoje continuo a fazer com o mesmo prazer. Saí do seu escritório nos anos 80, para ser arquitecto. Foi difícil começar, mas usar a sua “linguagem” parecia-me uma traição e mesmo que o quisesse, não o conseguia fazer, por pudor.

Depois da Revolução, e restabelecida a Democracia, abriu-se a oportunidade de redesenhar um país, onde faltavam escolas, hospitais, outros equipamentos, e sobretudo meio milhão de casas. Não era certamente o Pós-Modernismo, na altura em voga, que nos poderia resolver a questão. Construir meio milhão de casas, com frontões e colunas seria uma perda de energia, pois a ditadura já o tinha ensaiado. O Pós-Modernismo chegou a Portugal, sem quase termos passado pelo Movimento Moderno. É essa a ironia do nosso destino: “antes de o ser já o éramos”.

Do que precisávamos era de uma linguagem clara, simples e pragmática para reconstruir um país, uma cultura, e ninguém melhor que o proibido Movimento Moderno poderia responder a esse desafio. Não era só um problema ideológico, mas sobretudo de coerência entre material, sistema construtivo e linguagem. Se “arquitectura é a vontade de uma época traduzida num espaço”, Mies van der Rohe abriu-nos as portas na redefinição da disciplina tão massacrada até aí, pela linguística, semiótica, sociologia e outras ciências afins. O importante é que a arquitectura fosse “construção”, assim com urgência, nos pedia o país.


Com 10 séculos de História, Portugal encontra-se hoje numa grande crise social e económica, como já aconteceu em vários períodos anteriores. Hoje, como ontem, a solução para a arquitectura portuguesa é emigrar. Como dizia Paul Claudel: “Le Portugal est un pays en voyage, de temps en temps il touche l’Europe”. Resta-nos a “mudança”, como quer dizer a palavra “crise” em grego. Resta-nos decifrar o significado dos dois caracteres chineses que compõem a palavra “crise”: o primeiro significa “perigo”, o segundo “oportunidade”. Em África e noutras economias emergentes não nos faltarão oportunidades, o futuro é já aí. “Trabalhar na transmutação, na transformação, na metamorfose é obra própria nossa.” (1)

Muito obrigado.

Eduardo Souto de Moura



(1) Herberto Helder, “O Corpo. O Luxo, A Obra”

4 comentários:

donata disse...

Gostei!!! E como sempre, o nosso Souto, por palavras claras, directas e pouco chiques, faz um belo discurso!!!

Tb gostei do Obama, acho que esteve bem (a porcaria do video youtube que tinha visto nao se percebia nada!!!)

mimo disse...

Discursos inspiradores...gracias Jone!!!

liliana medeiros guerra disse...

também gostei muito... ambos tiveram bons discursos. Que orgulho na arq. Portuguesa :)

João disse...

Pah, achei que valia a pena transcrever! :D Não só pelo que disseram, mas pq mtas vezes desvalorizamos o que é de cá!